segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

2009

Lá vem mais um ano e com ele a promessa regada de esperança de que tudo irá transformar-se em luz.
Ele vem como um bebê curioso, descobrindo o mundo e tudo o queremos é que na despedida encontremos 2009 mais maduro e pleno.
Assim nos enfeitamos para receber sua chegada.
É tempo também de refletirmos o que se passou no já velho 2008. Então lembraremos tudo o que aconteceu, o que nos ajudou a crescer é o que deve ser guardado. Se assim o fizermos certamente teremos um passo maior em direção à luz. Os sofrimentos não deverão ser esquecidos mas sim lembrados como o anti-exemplo de como agir.
Então, felizes nos recordaremos de todos aqueles que nos estenderam as mãos quando já não tínhamos forças para nos erguer de mais um tombo sozinhos... amigos de verdade sempre estarão ao nosso lado independente da situação e da possibilidade.
É a vocês, meus amigos, que ofereço um 2009 cheio de braços ao seu redor. Amigos que me viram cair mas que nunca me deixaram no chão.
Minha família maravilhosa que além da amizade plena me apontam o caminho sem no entanto me obrigarem a trilhá-lo, e me apóiam independentemente de acharem, ou não, que estou na estrada correta.
Já li em algum lugar que família não são aqueles com quem temos laços sanguíneos mas sim os que escolhemos para estarem ao nosso lado na caminhada. Pois bem, orgulho-me de dizer que minha família toda, sem exceção, parece que foi escolhida por mim antes de regressar a esse mundo, e mesmo se não tivéssemos laços sanguíneos continuaria chamando-lhes de minha família.
Agradeço a Deus por ser uma pessoa afortunada porque além dos consangüíneos vieram estar ao meu lado os meus amigos-família de coração.
Não tenho do que me queixar, ao meu lado entes queridos.
Meu filho maravilhoso ( e é tão raro), que veio para me curar e ensinar.
Meu amor ( e é tão raro), que parece ter chegado a pouco mas que, eu sei, apenas retornou.
Sou feliz e abençoada.
Obrigada meu Pai. Quando retornar a ti certamente seguirei mais forte.
Como só tenho o que agradecer espero que no ano que se inicia possa estar mais forte para nunca faltar àqueles que me querem ao seu lado.
Sim, 2009 virá cheio de LUZ.
( Na verdade não sou luz mas apenas caminho em sua direção.)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Onírico


Fecho meus olhos para tudo o que vejo
Fecho os olhos para abri-los para dentro
E enxergo claramente dentro do meu ser
Aquilo que fui e o que posso vir a ser
Meu ser finito dorme
Meu ser infinito brinca em meus sonhos
Voa plenamente e livremente
Sem grilhões que o prendam
Brinca de voar por entre as estrelas
No contorno suave do seu rosto
Busco-me e encontro-te
Fora de mim, forte
Dentro de mim, mais forte
Permaneço suave como as estrelas
Pois agora faço parte delas...
Brilho por mim, te ilumino
Essa luz derradeira...

sábado, 30 de agosto de 2008

FLOR E FERA


Tenho uma FLOR chamada LUCIANA
De vez em quando (e de quando em vez)
ela me engana
e vira FERA ...:)

Autoria: Sua MÃE
( E AMIGA)
Júlia Gonçalves da Silveira

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Descoberta

Seu caleidoscópio caiu no seu chão de esmeraldas e partiu-se em mil pedaços espalhando pelo chão milhares de cores e formas abrindo um leque de possibilidades.
E então ela descobriu que a vida não era tão colorida como o caleidoscópio que sempre usara.
Respirou fundo.
Chorou.
E foi um pranto tão sentido que era como um êxtase; ao mesmo tempo que doía a nova constatação lhe percorria pela espinha um frio deixando o sentimento de tornar-se especial a partir dessa nova descoberta.
A noite já retornava e uma lua que levitava no céu, iluminava clareando os sentidos e trazendo esperança. Uma esperança esperada mas sofrida...
Sentia-se envergonhada... não por ter cometido tantos erros durante toda sua existência, nem por ter olhado pelo caleidoscópio na tentativa de melhorar o mundo mas por ter fugido sempre do negro não percebendo que a fusão de todas as cores resulta na cor preta. Isso ela não podia ter ignorado. Era por isso essa dor imensa tardiamente sentida. Não poderia passar por cima, queimar etapas e ficar ilesa no momento do insight.
Sentiu-se tremendamente egoísta...por muitas vezes tivera a chance de compartilhar da visão do caleidoscópio e não o fez porque era mais cômodo habitar seu ilusório e utópico mundinho. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide.
Tivera, por alguns minutos, raiva de si mesma...decepção consigo por não poder/saber ausentar-se e deixar as asas guardadas por um tempo. Raiva de não conseguir ficar com os outros no chão. Não precisava ser por muito tempo, ela poderia ampliar seu campo de visão e retornaria ao seu mundo somente para renovar suas forças. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide resolveu sair e conhecer outras coisas fora do seu mundo...Ele descobriu o valor de tudo que possuia graças a sua ousadia e sua ausência temporária. E principalmente descobriu seu valor quando reencontra sua rosa.
Respirou fundo.
Não chorou mais.
O primeiro passo, o da consciência da estupidez do seu ser finalmente havia emergido.
Respirou fundo.
Permitiu-se chorar.
Perdoou-se.
Deu seu último suspiro antes de caminhar rumo ao tempo perdido.
E então como que trilhasse ora por sob estrelas, ora por sob a grama verde seguiu em busca da paz e da luz.
Ora respirando fundo.
Ora chorando.
Mas dessa vez seu pranto causava-lhe um êxtase diferente, era assim como nascer de novo a cada dia e a cada nova descoberta.
Era o começo.

quarta-feira, 23 de julho de 2008


Essa poesia é sua? ? Ou a dor? Luluzinha, não fica cansada dessa guerra. A vida é luta... é assim.Quando tudo te sufocar, vai pro quintal do vô.Lá tem a sua jabuticabeira, tem a Olívia, tem infãncia( nunca perdida).Sinta, peceba aquele quintal, presta atenção no barulho, nos bichinhos, em cada detalhe...Eu vou estar lá, todos estarão, mesmo os que na Terra já não habitam... A sua filhinha era Aninha e vc me deu a Glorinha pra ser minha, lembra?Seja gentil com vc como vc foi comigo( me deu a Glorinha que era loirinnha!!!)Hoje, vc tem o Rafinha! Olha, que gracinha!Aquele quintal é mágico como a terra do nunca!Eu escolheria o país da Alice! Vai colher tomatinhos! A vida é boa tbm, mas nos detalhes.Escute ABBA! Faz bem...lembra a casa da Ciroca! Bjs.
Essa mensagem eu recebi da Mary num momento de crise existencial... e é incrível como seu texto me rementeu ao meu passado muito feliz, eu era tão feliz que achava que eu era a criança mais feliz do mundo. Agora, com a ajuda da Mary, me sinto feliz novamente...uma luz no fim do túnel. Valeu Mariane, vc me deu de presente tudo que é preciso para que a dor vá embora...lembrar de momentos como esse porque as vezes temos tendência a lembrar o que foi ruim no nosso passado e esquecer o quanto já fomos felizes e amados. Talvez vc não saiba como sua msg me roubou os mais intensos sentimentos e da forma mais simples como vc disse. Te amo!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Encruzilhadas


O céu estrelado banhado com uma imensa lua cheia iluminava o caminho de Anne, que simplória de vida e de coração, morava na beira do mar.
Ela caminhava em direção à praia na esperança de que ele aparecesse e a fizesse novamente sorrir.
Qual o que? Pura ilusão. Dia após dia ele golpeava seu coração, que ainda estava cicatrizando-se pela perda do último amor...
Foram anos e anos sem sentir aquela sensação, de coração acelerado, frio na barriga, um “não conseguir expressar-se”, às vezes até calafrios...
Sem perceber, sem avisar, nem precisar, sem entender, sem amarrar, nem pressionar...
Foi de um tempo pra cá que ela percebeu-se encantada, emocionada, apaixonada por Pedro, “ai Pedro, seu sorriso era simplesmente a medida de todas as dores e ao mesmo tempo um querer mais que bem querer.”
Havia intermináveis noites de espera, reza, súplica...
Mas Pedro: “Apenas uma fumaça distante no horizonte”.
Enquanto que Anne, como Helena, todas as noites esperava seu amor voltar de seu longínquo esconderijo.
O que não sabia Pedro é que mesmo fugindo carregamos dentro de nós, o sentimento que se quer esconder ou sufocar. E havia fugido para se defender de um sentimento que de tão infinito lhe dava medo. Não, Pedro não saberia lidar com esse sentimento forte e não queria perder o controle de sua própria vida. Pedro não sabia o que era o amor.
"Amar não é apoderar-se do outro para completar-se, mas dar-se ao outro para completá-lo." Com Anne ele havia decorado a lição mas não havia apreendido o verdadeiro significado.
Sempre há o caminho mais fácil, onde por medo de perder acabamos perdendo.
Até quando Anne o esperaria? Guardaria as lembranças a sete chaves? Viveria do que passou? – essas perguntas passavam pela cabeça de Pedro, que atormentado descobrira a importância de Anne em sua vida.
E era assim: enquanto Anne descansava lívida, Pedro sucumbia ao pânico.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Onde?


E onde está ela?
Sim, agora vejo seu rosto reluzindo na luz da lua...
Claro, ela só pode ter ido pra lá aumentar seu brilho...
Encontrar São Jorge e bater um papinho, talvez um desafio de trovas...
Apear da garupa de seu cavalo só pra com sua força ajudá-lo a vencer o dragão.
Sua vida de batalhas vencidas, de paixões recolhidas, de renúncia bem combina com São Jorge guerreiro!
Te amo novo brilho da lua!
Vá com Deus continuar seu croché tecendo teias de vida, vá em paz irradiá-la para nós pobres humanos diante de sua grandeza.
Deixa aqui vários órfãos mas deixa aqui exemplo de força, Mãe força, esse é seu nome.

terça-feira, 25 de março de 2008

Vibrações

Ela então olhou a lua da varanda de seu quarto e de repente toda a sua vida enchia-se de sentido novamente...
Lua cheia, renovação de energias...
Vibrações boas chegam enfim...
Ela olhou a lua tímida tendo o céu como leito brilhando diamantemente...E decidiu timidamente a voltar a brilhar...

domingo, 16 de março de 2008

Sempre

 
Sempre assim desde que te vi
Sempre assim sentindo-me um bem-te-vi
Sempre estou a te procurar
Sempre, sempre a te amar
Sempre sol no meu caminho
Sempre rouxinol no meu cantar
Sempre luz no meu luar
Sempre acesa e a brilhar
Sempre contigo a caminhar
Sempre esperança em meu olhar
Sempre estrela no meu céu
Sempre vivendo uma lua-de-mel
Sempre esquecendo-me do fel
Sempre elevando minha alma
Sempre fadinhas batendo palma
Sempre imensidão do meu sentir
Sempre novo amor a surgir
Sempre meu coração a aplaudir
Sempre você a me ajudar
Sempre você a me amar
Sempre você!!!!

( A você meu amor, esses versinhos cheios de cor. Parabéns pelos primeiros nove meses do resto de nossas vidas)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Vale um rio doce?


Da varanda, lugar de ver a natureza, descortina-se a destruição. O homem com sua ganância não mede esforços para te destruir, Yasmin.
Eles sabem o que fazem Mãe, o problema é o medo, o descaso...
É fácil deitar a consciência no travesseiro, basta fazer orações e fingir que esquece; basta fechar os olhos para fora e para dentro. É facil lavar as mãos afinal "não fui eu quem fiz mesmo".
Não. Nem eu nem ninguém temos culpa de agredir sem pedir licença
Nem eu nem ninguém temos culpa de dilacerá-la, Mãe, ou deixar que o façam ( afinal o que adiantaria fazer algo contra?).
E enquanto isso caem as montanhas nos vagões da indiferença, nos vagões da indecência. E, despindo-te mãe natureza deixamos suas feridas abertas ou vestidas como A roupa do Imperador, mas quando é mesmo que gritarão; " O rei está nu!!"?
Não é nada não...Mãe, para nos promover vamos vesti-la com a roupagm de longos e incontáveis eucaliptos.
Agora sim, já dá para convencer as paredes e dormir tranquilo.
Mas saiba, Mãe, que no fundo, bem no fundo do peito sabemos que não é nada disso ! Psiu, fala baixo.
Yasmin, aqui estou!
Peço perdão por todo o mal que te fazemos. Perdão!
Como diz o poeta: "Apenas um retrato na parede, e como dói".
Agora, vivenciando, sei que faria o mesmo que ele; agora eu compreendo exatamente o sentimento e a escolha do poeta. E como dói.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A volta


O anjo bom voltara com novas vestes.
Dessa vez M. sentia que prosseguiria, com passos tímidos mas firmes. Sabia que nada a separaria de seu anjo verdadeiro. Sabia que nem a distância e a separação física os impediria de seguirem lado a lado.
E o tal anjo disse: " M. , você é capaz! " e então partiu com suas enormes asas prateadas para além do céu. O anjo ia planando com sua veste mais pura.
M. já não se incomodava com esse fato, estava protegida.
(...) " Tudo se preenchia com a presença da ausência"
Outrora morria de medo de experimentar suas asas mas agora ousava seu primeiro vôo.
Fechava os olhos pensando na chegada do anjo e em senti-lo consigo.
O anjo ria do seu esforço, precisava de mais fé...
O que M. não sabia é que ela estava entupida de fé confortavelmente adormecida dentro de si... Tinha tanta que se não compartilhasse M. poderia até adoecer.
M. agora conseguia dar vazão a tudo o que ela sentia; seu anjo não a julgava por isso. De dia pensava nele e o cair da tarde era ainda mais belo; a noite sua alma vagava para se encontrar com a dele...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Paz


Onde buscá-la? Dentro de mim.
Sobrevoei por lugares inatingíveis em busca de ti. Voei mundos, caminhei a passos tímidos, ora a passos largos.
Muitas vezes, desesperada, pulei do precipício em um mergulho na procura infindável na escuridão do mar...mar revolto. Outras vezes deixei a água da cachoeira banhar todo o meu corpo...cachoeira límpida. Águas turvas, águas transparentes.
Anos e mais anos de tentativas vãs de encontrar no mundo exterior o que se encontra guardada em uma caixinha do mais puro cristal dentro do meu coração.
Ainda pensei que fosse fácil, depois da descoberta penetrar de corpo e alma e então ser feliz. Novo engano...
A paz está guardada e adormecida mas preparando-se para enfim despertar!
E então não é um exercício diário, um eterno autorealizar-se, uma reforma íntima, um estado de espírito lapidado com cuidado e sempre...
Paz, irei fundir-me a ti.

Mel


Tivesse eu o poder de transformar fel em mel; despejaria nos rios, mares, cabos, oceanos, adocicando a vida dos humanos tão calejados, pobres espiritualmente, sedentos de paz.Tenho um secreto desejo: fazer nascer em mim asas enormes, brancas, plumosas, dessas que se vêem anjos adultos. Sobrevoaria todo o planeta e quem sabe outros habitados e inabitados...( já que é pra sonhar alto poderia até visitar o Pequeno Príncipe no seu planetinha). Pobres de nós que conhecemos só uma migalha do Universo enquanto nesse plano.Deve haver milhões de outros lugares com seus céus, luas, cachoeiras e montanhas...O que me acalanta é saber que tudo aqui é efêmero e passageiro, estamos de passagem e a certeza de que pelo menos bagagem espiritual levaremos quando nos formos...A alma, presa ao corpo...isso é que nos faz sofrer pois já estivemos em tantos lugares maravilhosos, com pessoas verdadeiramente maravilhosas. Hoje nos resta essa prisão, que é o nosso corpo denso que um dia retornará de onde veio, da natureza, e assim o ciclo recomeçará...Gostaria de explodir para que cada “ pingo de mim” – ( do meu lado bom) pudesse ajudar a quem necessita pois meu amor é universal e incondicional, não pode parar em mim.Sou cercada de pessoas das quais amam e que com certeza me querem bem mas ainda assim muitas vezes caio numa solidão profunda.Ah...mas o dia há de chegar em que outros estejam prontos a explodir também...formaremos no cosmo milhares de centelhas de luzes coloridas iluminando a verdadeira vida ( a da alma), exaltando o criador.E aí, tudo será novamente uma coisa só, como foi um dia, na origem de tudo.Posso sentir-me cansada, às vezes, mas desistir, jamais!
Maio, 2007

Vibrações


Comecei escrevendo poesias melancólicas na adolescência, tinham algumas que eu até gostava, era muito influenciada por Fernando Pessoa e todos os Pessoa da sua doce dissociação ( pra quem não sabe o que é, ver Freud – rs), por um bom tempo a fonte secou ( ou eu estava seca?) agora me atrevo a esboçar uns textos que minha irmã, Mestre em literatura, chama de textos híbridos...Por vezes me vem a inspiração, geralmente nas noites de insônia que não quero preencher com remédios para dormir mas com algo produtivo...( minha psicóloga diz que preciso investir minha libido de uma forma produtiva)...rsHoje peguei meu filhote na escola e vim pensando que do jeito que as coisas andam tenho duas alternativas: ou escrevo, ou escrevo...porque o que escrevo pode não valer nada mas é dessa forma que tenho exorcizado meus fantasmas.Mas o que me deixa mais feliz é que ( incrível) as pessoas estão gostando, vocês acreditam que meu ilustre primo ( escritor e jornalista ) Petrônio gostou do que escrevo?O pôr do sol aqui em Itabira não é bonito como o de BH, principalmente o da janela do Hudson, mas dá pro gasto...as tardes já estão começando a prometer aquele friozinho básico que faz aqui. As noites têm sido estreladas e semana atrasada tinha uma lua redonda que me inspirou no que eu poderia chamar de meu primeiro texto híbrido....( adorei mesmo, Lé...), escrevi direto no perfil do meu orkut mas queria postá-lo aqui...
Ela então olhou a lua da varanda de seu quarto e de repente toda a sua vida enchia-se de sentido novamente...Lua cheia, renovação de energias...Vibrações boas chegam enfim...Ela olhou a lua tímida tendo o céu como leito brilhando diamantemente...E decidiu timidamente a voltar a brilhar...
Abril, 2007

A gata borralheira


O dia amanhecia e Pedro não havia dormido ainda...a noite em claro lhe imprimira uma olheira incomensurável...olhou-se no espelho e não ousou nem sequer fazer a barba...Vismundo lhe dera uma lambida na perna esboçando um bom dia mas ele não notara.Toca o telefone justamente na hora em que ia sair, coisas da Lei de Murphy...“Alô?”Silêncio.“Alô!”Silêncio...“Ligou só pra ouvir minha voz? Otário!...”Desligou.Pedro não suportava isso, coisa de adolescente, coisa que não eram mais. Pedro sabia que quem ligara era Marília, a sua Marília que o abandonara a exatamente três anos, dez meses e sete dias...sabia também que o remorso lhe coroava os dias. Mesmo assim não tinha coragem de lhe dizer o que sentia...Bateu a porta com força e entrou no carro. O trânsito o enlouquecia ainda mais, preferia realmente o trânsito de saturno...Chegando ao trabalho Pedro desanimava cada vez mais.Não conseguiu trabalhar naquele dia... cheio de projetos com data para entrega, tinha que dar a volta por cima e conseguir.Mas Pedro ainda confuso pela falta de descanso rodopiava os pensamentos em Marília, essa mulher que lhe roubara a vida e a alegria de viver.Marília chegara como quem chega do céu... devagarzinho e flutuante. Passaram vinte anos de suas vidas juntos, ora isso não era vinte dias. Acostumara com seu jeito, seu cheiro, sua forma de dormir abraçada a ele sufocando-o como se ele fosse fugir...Marília era dessas mulheres que estavam sempre perguntando se estava tudo bem... cuidava da casa e de seu homem...não podia ter filhos mas isso era um detalhe...tanta criança precisando de pais...Muitas vezes, quando Pedro voltava do bar pra onde sempre ia depois do trabalho com colegas que saiam à caça, ela o esperava com seu jantar e um sorriso no rosto... perguntava se ele estava com algum problema e por isso andava bebendo tanto...muitas vezes fingiu não sentir o perfume barato que impregnavam suas roupas...Não entendia como aquela cabeça funcionava mas seus amigos já diziam que mulher gosta mesmo é de apanhar...então, normal...Assim os anos seguiam mas Marília já ficava cansada daquilo.Um dia, sem drama, sem tempestade ela simplesmente passara na sua frente com a roupa do corpo e saíra.. .telefonou meses depois dizendo que estava bem e tentando ser feliz...mas como? Ela não era feliz? Ele pagava as contas, dava duro na agência pra bancar tudo que precisassem... sem seu salário gordo Marília não sobreviveria pois ganhava muito menos que ele...e assim a mantinha em cárcere privado para que fizesse sua parte e a dele também.Mas Marília era uma mulher jovem, bonita e amável... e isso encantava quem não a possuía...e a fazia pensar pois do contrário do que Pedro pensava ela não estava feliz com aquela situação.Simplesmente mentia para os amigos quando perguntavam por ela... ”Está viajando, passando uns dias com a mãe, que não desgruda dela”...Manter a pose era essencial, Pedro era um homem forte e bem resolvido.Só não contava que um dia a gata borralheira se transformaria em Cinderela, e isso o deixara fora do prumo...Os anos sem Marília lhe fizeram enxergar o valor que ela tinha... mas era tarde demais...só não entendia porque ela ligava e ficava calada...sabia que era ela pois com o tempo aprendeu a reconhecer sua respiração ofegante.Entretanto Pedro já estava confuso...andava sendo assediado por vagabundas que só queriam seu dinheiro.Envolto em seus pensamentos Pedro não produzia a tempo, seu chefe já lhe dera o intimato...Mas Marília estava muito além dessas pequenices mundanas... com seu jeito cativante logo aprendeu a se virar sem Pedro. Por isso mesmo sua preocupação com o bem estar daquele que lhe fizera muito mal ainda persistia. Já o perdoara mas ainda havia algo a ser reparado.Algum tempo depois Pedro apareceu novamente com Marília perante a sociedade...mas aquele homem gentil e apaixonado era mesmo Pedro?

Abril, 2007

Revelações


Ela entrou no ônibus em um estado ímpar, era como se naquele exato momento a vida fizesse mais uma revelação. Sempre que passava por esses raros momentos, sua alma enchia-se de luz radiante e a sensação era de ter todo o corpo envolto nessa luz e todos os pelos corpo ( o do couro cabeludo era o que mais lhe impressionava) arrepiavam-se.
Sentou-se em uma cadeira qualquer decidida a fazer a escolha certa, a de ser feliz.
Então viajou viajando...seu pensamento voava longe e lembranças de um momento único e mágico vividas com um ser que certamente descera do céu em forma de homem – aliás meio anjo meio demônio – para lhe tentar e lhe salvar.
Tudo que acontecera e tudo que havia sido dito imprimira marcas definitivas...sentia que tudo já estava em sua mente mas precisava que fosse dito por outra boca...macia...
Ela estava naquela fase da vida em que crises existenciais brincam ciclicamente... E como era estranho pensar que sempre, sempre em sua vida toda, mutações evolutivas aconteciam no início do ano; já chegou a achar normal afinal de contas, ano novo é sinônimo de vida nova. Mas será que era só por isso? - nada disso... era uma sincronicidade, no fundo ela sabia. Mesmo porque tinha que ser naquele momento, naquele tempo e não em outro antigo.
A rodovia iluminada contrastava com o reflexo da lua nas águas da represa...ela olhava e sentia-se ainda mais iluminada.
A pouco mais de duas semanas começara o processo...as noites insones, o pensamento que não cessava...a busca como instinto de sobrevivência...
Parou e pensou que todos os seus esforços não traziam resultado... - vai ver é melhor mesmo dar um tempo na busca – e lembrou-se de um verso de Quintana que dizia mais ou menos que o segredo é não correr atrás das borboletas mas cuidar do jardim para que elas venham até ele.
Nunca dormiu tanto em sua vida, esse estado latente em que se encontrava fazia parte do processo.
Precisava cair nos braços de Morpheus para que pudesse fechar sua gestalt.
No dia seguinte pulou de ponta no rio, mergulhou até o fundo para que batesse as mãos no fundo e tivesse forças para subir à superfície. Nadou até o outro lado e deitou na pedra descansando novamente.
No último dia estava pronta enfim para queimar o que não valia mais e renascer das cinzas.
E mais: sabia que brevemente alçaria vôo novamente.
E assim voava entre promessas de um amanhã melhor, mais vívido...
Abril, 2007