sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Onírico vigilante


Caí da cama mais cedo
Era o vento inerte a sondar
Ares absolutos feitos no ar
A mesma velha chama a clamar
Distraída, corro os olhos na janela
Teria hoje lua para bailar?
Vou ao céu tentar encontrar
O que no sonho feliz ficou
Minha vida a rodopiar
Borboleteando, bailando
Arrancando dos olhos a viseira
Dizendo pétalas em nomes
Ângulos convergem precipícios
Precipitados de ânsia
Olho o olho que me olha
No espelho, olho mas não vejo
Reflexo de reflexões
Sons e silêncios de água
Em busca de mim
Tentando me encontar
Em outro lugar

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Insone


Ego sem endereço certo
Desapareço
Ruas esparsas
Revirando lixeiras
Criando comparsas
Gotas esparsas
Espelhos de pura relexão
Encaro a face da fera
Habitada em meu coração
Escapo ilesa dessa beleza
Num tempo torto
Faltoso
Tramo teias em meu balaio
Enquanto insone  distraio
Afogada retraio
Disfarçada
Esquivando-me
Fraca luz do abajour
Convidando-me para o sono
Que não vem.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sei


Minha alma profana
Nada almeja 
Sonhos coloridos abrem asas
E no fim da noite pousam leve
A superfície do rio que corre em mim
Transborda de seres múltiplos
Todos eles alados ou de nadadeiras
Meu ser cobre-se de tenra luz
Levando para longe as desavenças de outrora
A vida é multicolor
E pássaros cintilam em suas plumas douradas
Encantadas por quimeras
De onde vim e para onde irei
Minha miopia ainda interna
Minha utopia ainda inacabada...
O sol quando se põe não sabe onde vai
Assim, sei-me.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Dindinha Lua


A lua tímida tenta no céu florir
Tímida, me mantenho
Sou reflexo da lua
Espelho em que me miro por inteira
Mimos de um ser em crescimento
Teimando em não acinzentar-me
Como as nuvens que encobrem
Meu ser é todo ele interrogação
Para dentro de mim, além do corpo
Para fora, além da razão
Questionamentos cercam-me
O sim, o não,
Contradição...
Sou eclipse em ascenção

sábado, 21 de novembro de 2009

Onírico 2



Devo dizer
Há algo estranho em meus sonhos
Com um salto volto lá atrás
E são lares habitados por mim
Sombrios casarões, inúmeros quartos
O quarto crescente da lua a iluminar
Velhos porões embotados de recordações
A infância vivida na brisa aconchegante
Espaços outrora preenchidos por meu corpo
Espaços inundados de minha alma fugidia
E no invocado inconsciente, as escolhas
Dentre elas, uns acertos, vários erros
Como num passe de mágica, do salto ao vôo
Vou além de onde posso ir, presa que estou
Um corpo denso a enraizar-me no solo árido
A alma sedenta de liberdade e amplitude
Sonhos de vida pulsante, inebriante
Lucidez embriagada e extirpada de mim
Velhas caravelas em mares densos
Pessoas queridas ao meu redor
Saudade querendo o que é seu por direito
Bebês, crianças, adolescentes, adultos, idosos
Mortos
Todos eles, em mim.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O que há


E agora, onde, senhores, pode estar a mola propulsora de todas as dores?
Onde buscá-la, quando é permitido entrar em suas conjunturas,
Emaranhar-se em suas longas espirais ?
Vitrais de beleza e medo, escolhidas no tempo ido,
Ou talvez, caros senhores, no tempo em que fomos banidos.
Desejo... seria ele o repugnate atraente, primórdio,
O vilão vil dessas amarras
Em meu peito.
E nos seus, pobres senhores.
Do lado de lá, onde tudo é revelado, fim dos dogmas,
Do lado de cá, o penar, nos podando as asas, tristes senhores,
A nos sufocar...
Emaranhados em miscelâneas douradas,
Teias da dor-beleza-desejo-medo.
Estão assustados, meu senhores?
Mas é isso o que há.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Por passar


Viver muitas vezes requer maestria. E ninguém a tem por ter. Nascemos, vivemos, amamos, crescemos. Por pensar demais resolvi não pensar tanto assim e viver. Será esse o grande brilho? Asas podadas, que temos, podemos ainda assim voar. O vôo nem depende delas, sendo internas em nós. Internar-se na solidão do penar não é a solução. Conclusão não há. Possibilidades, ah, essas sim, sem fim. Seria viver o sonhar? Sei lá. Só sei que respiro ainda e quero o respirar sem almejar, esse é belo, eterno. Quero mundos sem fim e mundos cheinhos de prazer, ainda que temores me venham assombrar, e não mais em vão. Teria eu enfim calma e paz? Teria mares revoltosos findando-se em desertas ilhas? Faria de pequenos sonhos o pouco alcançar? Traria alegrias sem fim aos que precisam e querem, e sonham também? Só sei que nada sei ainda de fins felizes mas sei que o caminho tem flores, e verdes bosques de mais variados sabores. E quem ousa alcançá-los sem indagações, sem labores, sem louvores, sem viver, não há. Não, esses passam por passar.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Da vida




Da vida
não duvido mais
Quero o cerne, a carne
Quero o que me é de direito
Da vida
Quero o leito
Rios, cascatas, mares
Quero bares
Da vida
Quero becos
Ávida de desejos
Comungo com deuses
Pequenos seres
Como eu

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Em sonhos



Em meus sonhos pinto e bordo
Transbordo
Teço teias penetráveis
Sempre voando, bailando, cantando
Nos meus sonhos vejo a luz
Desde o início do túnel
Tinas e mais tinas de água límpida
Cachoeiras embalando sonhos alheios
Nos quais penetro sorrateira
Com cara de quem foi convidada
Em meus sonhos posso ser o que quiser
A menina zangada, mulher amada, adolescente malcriada
Posso ser até a sábia anciã, se quiser
Percorro casarões antigos
Recantos sombrios
Percorro vales verdejantes
Recantos encantados
Em meus sonhos estou sempre só
Me vejo pelo avesso
Sou de dentro pra fora
Qual observador arguto
Escuto
Vejo pessoas sorrindo, amando, chorando
Vejo além
Em meus sonhos

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Primavera


A primavera inunda de luz minha vida
Com seus perfumes exóticos
Alucina meus seis sentidos
Aguça minha sensibilidade
Tal qual  beija-flor sugando rosas
Borboleta bailando singela
Leva e eleva meu pensamento
E, delicadamente
Sem tormento
Desfaleço-me ao sabor do vento...

domingo, 20 de setembro de 2009

Clariciana VIII

Caminhava distraída por entre viseiras e recolhía-se a conchas absurdas criadas. Saboreava a brisa que enchia seus pulmões, pulsações de uma vida repleta de cores e revelada em cada detalhe, sabores e odores flamejantes de um jardim secreto, torneado de flores e amores. Abençoada por visões sombrias e enigmas a serem decodificados. Mas a visão dantesca prosseguia envolta em nuvens esparsas e negras. Tudo prosseguia como mandava o figurino e ela cada vez mais sentia que era muito pequena diante de tudo. A vida revelava-lhe coisas das quais não gostava e mesmo assim seguia saboreando. Quando haveria de acordar? Será que um dia olharia tudo em volta e passaria a enxergar diferente, enxergar com os pés no chão? Sabia que nada sabia e esse fato também trazia dor. Sabia que para ser grande era preciso abdicar de sabores indigestos. Então deveria lutar, deixar de engolir alimentos nefastos. Mas mesmo assim prosseguia... um dia haveria de chegar o anjo branco que a levaria aos céus. Mas divagava: não estaria esse anjo dentro de si?

sábado, 19 de setembro de 2009

Luz da lua



Sou da noite
Borboleta noturna
Desgarrada da flor
Tecendo ilusões
Soluções inacabadas
Inesperadas
Luz da lua
Completamente nua
Exposta em raios
Dispersa no céu
Sem prumo
Rumo ao mar
Sem porto para ancorar
Sem fim

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sinto


Do arco-íris do meu ser
Pinto e bordo, recordo...
Brindo a vida em sua taça
Leque de possibilidades, ardo...
A cada volta do sol
Dele visto-me desperta
E imersa em raios, explodo...
Envolta no manto da lua
Imensidão de brilho e luz, respiro...
Na escuridão de minhas noites
Chuvosas, saudosas, cheirosas
Brinco de voar, imagino...
Nas águas do meu viver
Sou uno e duplicidade
sinto, sinto, sinto...

 





quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pequeno tratado sobre mim




Nasci de olhos e mãos abertas para esse mundo. Fui bem recebida, acolhida, amamentada e amada. Fui sim, a criança mais feliz que conheci. Brinquei até hoje e seguirei assim. Sempre gostei de ampla visão, por isso vivi subindo em telhados, muros, construções. Mas sobretudo trepei em árvores frondosas, onde fazia minhas casas com lençóis e bonecas. Mais ainda, saboreei frutas maravilhosas, lá de cima, só pra ser mais feliz. Caía, levantava, sacudia a poeira e sorria. Amava o fogo, cheguei a ser incendiária, desde tenra idade. Ateei fogo para dançar com salamandras. A água, ah, como sempre amei a água... Nela quase fui-me por duas vezes, uma no rio, outra no mar. Fiz do Santo Antônio meu berço, de cachoeiras minha paz e do mar minha recarga de energia. Brincava com pessoas para fazer a vida brilhar ainda mais. Muitas vezes, na mais absoluta inocência, fiz coisas desagradáveis, para arrancar risos, brilho esse que sempre prezei. Amei com transparência e sem resguardar-me. Sempre acreditei nas pessoas e no que elas podem trazer de melhor. Sofri desesperadamente em prol desse sonho. Sonhei que voava, dava saltos longínquos, flutuei. Plantei árvore, flores, feijão. Amei, amei, amei. Apaixonei-me por pessoas, versos, prosas, livros, músicas, ideais, profissões e mais, muito mais. Tive amor paterno, materno, fraterno, familiar, ágape, erótico, incondicional. Tive instinto maternal. Bebi, sorri, bebi, chorei, bebi, amei. Bebi vida. Bebi amor. Dancei, cantei muito. E canto essa vida até hoje e além.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ausência



Cai a tarde impregnada de ausência
Saudade chega com seu manto a encobrir-me
O por do sol me consome em chamas
A lua cansou-se de emprestar-me consolo
Mas no fundo do peito
Naquele lar profundo da alma
Onde o tempo é infinito
E as horas não são notórias
A sensação que ora me alucina
E ora me veste-me de verde
E despe-me de cores ilusórias
Faz-me um bem
Sinto que sou maior
Sinto que a brisa desfalece-me
Mas infinitamente eleva-me
Sinto o pulsar do amor
E então essa ausência anuncia-me a vida
Ela agora faz parte de mim
Nessa máscara que não tiro nunca mais.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

De mim




De mim
Fiz-me vento
Enorme monumento
A se contemplar
De mim
Fiz-me ruínas
Engajando minha sina
E instituindo meu penar
De mim
Fiz-me tormentos
Vãos momentos
A me rodear
De mim,
Fiz-me cantar
Cantiga a me consolar
Para meus sonhos embalar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Na varanda



Dependurei na minha varanda
Um bebedouro de beija-flor
Para trazer-me
Alegria
Esperança
Nova vida
Bem-viver
Dependurei na minha varanda
Um pedaço de vida
Vida simples
Benvinda
Para sempre
E nunca
Morrer

domingo, 23 de agosto de 2009

Saudade


A saudade
Despenca sobre minha alma

Desperta sentimentos inócuos
Rabisca meu viver
Revolve todo o meu ser
Em uma luta incessante
Tento conter o rompante

Defender-me
Inútil
Ela vem e invade
Me arde

Lançando-me ao infinito eterno
E, ironicamente,
Eleva-me
ao além...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sorriso



Sempre sorrio,
Muitas das vezes sorrio triste.
Típico sorrir daqueles que precisam...
Rio muito!
Acho graça, sobretudo de mim.
Criatura esperançosa.
Desajeitada da vida.
Vida sombria
E, com suas idiossincrasias,
Vida límpida por demais.
Transparente como as águas,
Mas poluída como as tais.
Nessas horas, em que divirto-me de mim mesma,
Sinto a leveza da ave que voa ao longe
E pousa porque a terra é seu lar.
Essas, às vezes,
Insistem em catar as migalhas no chão.
Quem dera eu, pudesse voar...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Poesia





A poesia, de dia, me consome.
Em minhas batalhas noturnas,
a poesia deixa-me insone.
Bate na vidraça dos meus olhos
Mas sem pedir licença, adentra meu ser.
Corrompe-me,
Dilacera meu peito.
Quer extravasar-se de mim.
Os dedos procuram um instrumento,
O instinto lavra o documento.
Por um momento, livro-me do tormento.
Mas algo fica não-dito.
É que é difícil expressar o indizível,
O sentimento invisível.
A poesia é comigo um ser.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O caber


Descobri que habito em mim mesma, assim descortinei o mundo lá fora...
Todos os meus zelos foram inúteis.
Toda a minha graça encoberta, agora desperta, pulsa em mim.
Não caibo em mim de tanto amor.
Não caibo nesse mundo inverso, mas humildemente o revelo.
Sigo maravilhada diante de cada descoberta.
Sigo feliz.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Delírio




...Dei de delirar
Ando sonhando uns sonhos
Que eu sei que não vai dar
Ando arrastando asas
Pra qualquer pessoa pegar
Ando soltando umas pérolas
Para aos porcos dar
Ando numa preguiça só
Ai que vontade de deitar
Ando dum lado pro outro
Só pro tempo passar
Dei de delirar...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Leãozinho

 
Antes de você chegar
Na época de minha vida-na-falta
O mundo era menos colorido
Mais chato, monótono todavida...

Quando você saiu do meu ventre
Senti-me mãe-bruxa-fada-mulher
Senti-me luz, primeira vez na vida
E o mundo coloriu-se...

Hoje, na calma materna,
Olho bem pro meu leãozinho
Embalo você com os olhos, com a mãos
E sigo mais feliz.

Parabéns ao meu filhote Rafael, por seus luminosos seis anos de vida.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Salamandra


Mora em mim tudo que há em uma mulher
Todos os seus secretos caprichos
Faço de mim o que bem quero
Explodo, encubro
Me mordo.
Abro o portal para o dragão, enxoto da jaula, o leão
Atravesso o além e transponho galáxias, sóis e planos
Sou próxima aos elementais e sei onde habitam as feras
Vôo alto e rastejo com serpentes
Sou assim mesmo, mulher.
Aprendi a força das paixões,
com a sabedoria do fogo, dancei com salamandras.
Narcisa solitária, Helena esquecida.
Julieta amada, Bela Adormecida.
Todas essas habitam em mim.
E mais o ponto de conversão
Que detona e abranda o coração.

terça-feira, 14 de julho de 2009

No final



Pode ser que no final
nada haja para encantar
Pode ser que no final
nada falte a declarar
Pode ser que sim
Pode ser que não
Pode ser um: Quem sabe?
Só não pode ser igual
Só pode ser anormal
e por isso, tão imoral
e imortal.
Pode ser que nem tenha havido um final.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Elan


A solidão doía-lhe porque percorria todas as veias do seu corpo culminando no coração. E era por trás da cabeça, na nuca que sentia. Sentava na rede, deitava na rede...rolava...nada aliviava. A tensão era depositada nas costas, nos músculos, deixando-os tesos. Tinha urgência, e era assim desde o amanhecer e ainda emendava-se com o não-dia, impressões da ilusão de um ser questionador. Duvidava de si, duvidava se estaria acordado ou dormindo, vivo ou morto. Em seu mundo fabuloso o que tinha certeza é que desde cedo aprendera a questionar. E rodopiava em torno de questões existenciais como o que significava aquela coisa dentro de si que o fazia ter fome, mesmo após ter se fartado. Aquela coisa que apertava-lhe o peito quando só e quando iludia-se de que estava acompanhado. Uma vontade enorme de sair correndo, e, q uando o fazia, a vontade maior era de não permanecer onde chegara. Nada bastava para si. Ele queria sempre mais, sentia-se vazio e nada o preenchia. O desejo não tinha fim, era alcançá-lo, e lá vinha outro atormentá-lo. Acompanhava-o desde a mais tenra idade, idéias de felicidade plena e tranqüilidade. Idéias incompatíveis para ele, que mesmo estando em paz, sentia fervilhar em sua cabeça pensamentos. E eram pensamentos ambíguos, sempre. Tinha um desejo secreto... e esse era o mais fabuloso, o desejo de não crescer. Sentiu um ódio profundo quando viu crescer nele pêlos em toda parte do corpo franzino que transformava-se. E com o corpo, trasnformavam-se também seus desejos. Aquelas garotas românticas que tanto desprezava, agora eram vistas com outros olhos. Queria tocá-las, amá-las, beijá-las. E o que nele causava indignação, não era só o fato de ter que assumir responsabilidades, o que feria-o era estar livrando-se, mesmo sem querer, de sua inocência. Afastava-se do corpo e da inocência de sua criança interior. Não deram-lhe nem a chance de optar por essa mudança. Sua inocência era tão pura, que, quando criança, muitas vezes acreditava ser o protagonista de uma história importante e sua felicidade era tão plena que já chegara a imaginar que aquele exato momento era o final feliz dessa história. Se ele morresse naquele instante, não temeria, pois já tinha alcançado o nirvana. Hoje, tinha medo da morte. A medida que ia “adolescendo” já não tinha tanta certeza de que poderia, um dia alcançar o paraíso. A partir daí, começara a sentir-se sempre a uns dois ou três passos dele. Hoje, vislumbrava apenas uma longe fumaça no horizonte. Isso o feria. Não enxergava mais a luz no fim do túnel. Estava roubada sua inocência. Esse fato doía-lhe nas entranhas. Será que nunca mais atravessaria o portal?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ita Bira


Itabira não é para mim
Um mal tão grande assim...
Ai, ai, ai, ai
Não pode-se julgar um lugar por nossas próprias mazelas
Itabira acolheu-me profissionalmente
E, finalmente, deu-me um lar decente
Ai, ai, ai, ai
Tão perto do mestre Drummond...
Olho de frente, vejo casas simples
Olho ao lado, vejo um lago
( Rejeitos da Vale, sem vale...)
Ai, ai, ai ,ai
Mas olho sonhando um oásis
Talvez um lago natural, com seus encantos
Vejo de frente a Fazenda do Pontal
Nem sei se o mestre já viveu ali...
Se prossigo em frente, chego ao Memorial
Sem saber ao certo se foi feito
Para homenagear ou usar...
Ai, ai, ai ,ai
Mas o que importa?
Se são traços verdadeiros que habitam ali?
Uma velha máquina de escrever,
Onde também, como eu, tu deixastes impressos
Teu pesar, espanto e alegria
Acerca dessa vida,
Dura, férrea.
Não a deixarei, Itabira,
Dura Ita,
Não antes de redescobrir-me,
Não antes de estender minha mão cansada
Àqueles que dela precisam
Ai, ai, ai , ai
Escrevo em vão,
Tantas vezes sinto vontade de chorar
( Nem mesma eu sei, se de tristeza ou perplexidade)
O pranto vem, e,
Tanto mais forte,
Prossigo!
Ai, ai, ai, ai!
Itabira,
Acalanta-me.

sábado, 20 de junho de 2009

Clariciana VII


Primeiro haveria de entrar em contato com seus sentimentos outrora resguardados de si. Pensando na busca desenfreada para amenizar o sofrimento ( ainda pensava) notara que tivera que assassinar certos sentimentos que a faziam sentir-se rejeitada. O que concluíra não era lá grande coisa, além de deixá-la assustada. Concluíra que na verdade tais sentimentos não foram mortos mas sim adormecidos. E o sentimento mais forte era o da raiva. Raiva de pessoas que demonstraram indiferença para com ela. Raiva de pessoas que não acreditaram em seu potencial. Raiva de pessoas que a magoaram profundamente. As cicatrizes eram provas de que os sentimentos existiram. Não queria revirar velhos sentimentos embotados, mas aprendeu que só assim poderia livrar-se deles e enfim viver o momento presente. Sabia que além de não ser fácil isso iria modificar toda sua condição de ser o que havia ditado para si. Resolveu então que de agora em diante não haveria mais de guardar para si o que a incomodava. Não queria se acomodar com o que incomoda. Não mais. E percebeu que deveria sentir o que sentia e que não haveria de esconder seus sentimentos. Nem precisava mais voltar ao que passou, mas de agora em diante deveria resolver com quem a importunava. Deveria resolver com o que a importunava. Chega de noites insones tentando justificar suas falhas e as de quem a magoava. Entendeu que deveria gritar diante de qualquer porcaria que a obrigassem a engolir. Entendeu que essa deglutição obrigada revirava-lhe o estômago. Entendeu que a paz desejada só retornaria se fosse sincera consigo mesma, com seus verdadeiros sentimentos. Descobrira que a raiva é um poderoso sentimento que só escoa-se se for canalizado para fora de si e para que ela não se exprimisse intelectualmente foi preciso muita energia e isso afastou de si os fatos e eventos reais. Sempre camuflava o verdadeiro, o real. Geralmente até esquecia-se do motivo que a fizera ficar magoada e geralmente descontava sua raiva em quem estivesse mais perto. A triste constatação de que a experiência não gratificante foi engolida não parava por aí, ela vinha acompanhada da certeza de que não queria assumir a responsabilidade de ferir a pessoa que a machucou pois isso faria com que tivesse que lidar com a possível rejeição. Com isso foi confinando-se em sua esfera intelectual, em sua redoma mortífera. Sua raiva parecia-se com a de uma criança que quer revidar o soco, mas não sabe como. Esse sentimento então voltou-se contra si mesma. Além de tudo tinha muito medo de expressar sua raiva e perder o controle. Tanta defesa... para que? Sua cabeça pesava diante de tantas descobertas então precisava também descansar. O essencial já estava visível: extravasar a raiva no momento que a sentir é toda a diferença que há no mundo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Clariciana VI


E o que ela era? Ela vivera a ilusão de ser livre. Mas isso antes de ser contaminada, poluída. Uma liberdade inalcançável quando engana-nos dizendo que é, só pode revelar-se mais tarde como uma sensação de que nunca foi. Essa verdadeira liberdade não prende-se a nós... não nesse corpo. Sentia que a alma fugidia gostaria de paralizar os momentos fugidios, dominá-los. Em vão. O tempo esvai-se e o dela passou rápido demais. Perdera chances. Perdera experiências porque havia também o medo de sofrer. Em nome da liberdade ludibriada, ela perdeu e perdeu-se. Como nunca se dava por vencida, precisava abrir novas experiências mas dessa vez sem prender-se a bordões ou frases feitas. Nada de recuperar tempo perdido porque sabia agora que isso não existe. Agora era encarar o mundo real. Era entrar em contato com os fatos, positivos ou não. Era abarcar em si a realidade sem demagogia ou deformação. E principalmente era aceitar. Correu os olhos pela última vez em seu passado e nas fotografias. Cabeça erguida, voltou a si quando a última estrela perdeu seu brilho e a aurora já anunciava as boas novas. Orgulhava-se de ser fênix.

Fragmentos


Ele sabia cada gosto vindo dela. Seu corpo cansado de batalhas só encontrava paz no regaço do dela. Por isso ele gostava de observar os detalhes e nuances de seu movimentar lento e companheiro. Quando podia, fingia olhar ao espelho, reforçando sua fama de narciso, mas na verdade furtava-se de cada olhar lançado sobre seu mundo. Suas coisinhas, souvenir barato, mas pleno dela. Era ela a quem ele enxergava para além do espelho. Sua alma. Era ela a quem ele queria possuir para que perpetuasse-se aquela cena, naquele momento em que fitava cada corzinha naquele armário encantado. Seguia-a pela casa para onde quer que fosse para não perder os lances secretos que eram executados em sua ausência. Corria os olhos sobre os móveis em busca de alguma pista do que estava acontecendo em sua vida, o que era fácil pois ela vivia de música e poesia. Sabia que cada passo dela era teleguiado por amor. E isso o fascinava. Quando ia-se, deixava para trás rastros seus, forma de se instalar. Ela gostava, ele sabia. Saía de casa regado do perfume escondido no fundo, para ocasiões especiais. Queria sempre marcar o corpo dela, que sôfrego, clamava pelo seu. Na grande parte das vezes esquivava-se diante do apelo urgente que teimava em dominar mas na verdade só voltaria a respirar ao sentir que ela ainda respirava e que sempre iria respirar. Suas tentativas alcançadas enfraqueciam-lhe o corpo mas não elevavam-lhe a alma. Queria mais, queria entrar dentro dela, ser com ela. Não sabia como agir. Quando aparecia a coragem, ele ia e a possuía. “Sem meras patologias”. Sem suplicar nem prometer. Gostava de deter o poder, exercer o controle. Sem perceber até, repetia os velhos hábitos de seus ancestrais ou do poder patriarcal. Sabia sem querer admitir que era mais um carneirinho. Mas o sabor doce e ilusório desse suposto poder era passageiro e ilógico. Podia enquanto podia, quando recebia longas cartas de amor, quando recebia emoções dela, que só devia pensar nele toda hora do dia. Podia enquanto a tinha em seus braços, podia quando, para livrar-se da rejeição evitava maior aproximação. Tudo deveria ser calculado para que, em momento algum, transparecesse o âmago de seu amor e o êxtase desfrutado. A fruta, quando bem mordida nos engole. Seus amigos orientavam-no de acordo com seus delírios. Ele delirava. Em seus devaneios sentia-se o próprio Rei recentemente coroado. Caminhava na rua como um pavão porque era muito amado. Secretamente amado pela mulher que ama.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Clariciana V


Pensou então naquelas pessoas com as quais perdera o contato. Assustou-se. O número de pessoas muito especiais era grande, nem talvez pela quantidade mas pela qualidade. Pessoas que outrora eram essenciais. Como recativá-las? Trazê-las para o lugar onde não devia ter deixado-as saírem... Perdia-se em longos devaneios acerca de como agir. E isso trazia-lhe tanta dor quanto a que derivava-se de sua descoberta. Resolveu então que não iria mais pensar mas até esse seu pensamento doía-lhe. Desde que virou adulta adulterou-se. Acostumou-se a viver na esfera intelectual e isso impedira-lhe de entrar em contato. Impedira-lhe de viver. Às vezes pensava em desistir ( continuava pensando...), mas em seguida retomava sua sina. Não queria viver do que desistisse. Não podia compreender-se ainda, mas aprofundava-se cada vez mais na busca. Não aceitava o que era para não se passar por tola e essa era a sua mais secreta tolice. Temia a expansão que experimentaria ao entrar em contato consigo mesma, medo do medo de ter medo. E o medo sempre mobiliza. Então deveria também expurgar seus medos. Mas isso significava voltar a ter autoestima...será que perderia amor se deixasse de ser vítima? O medo retornava... mas já sentia um progresso pois agora começava a entrar em contato com seus sentimentos verdadeiros. De repente caiu em si de que construira um templo e enfeitara-o muito mas nunca havia ingressado nele. Expulsou dele os que mais ama. A solução era tão simples e clara que chegou a duvidar dela. Teria que olhar para si, ir ao encontro de sua alma e pedir para que ela gritasse. O Templo interno deveria ser contemplado novamente. O Templo traria seus amigos de volta. O tempo traria.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Raio de sol


Noutro dia fui questionada se não sentia medo de expor meus sentimentos, daí pensei...eu não! Tenho medo é das pessoas que os esconde. Não deixo de sofrer por elas, amando-as ou não.Não tenho medo de ferida, eu as curo todas doando mais amor.

"Pela vida de desenganos amanhã retornarei com alegria outra vez"

Basta abrir as janelas da alma e inundá-la da mais pura luz do primeiro raio de sol.

domingo, 31 de maio de 2009

Clariciana IV


Fora buscar suas raízes outrora esquecidas em algum canto daquela velha cidade. Partículas espalhadas ao vento. O trabalho seria exaustivo, mas mãos à obra. Pra começo de conversa, limpar a velha poeira, sacudí-la, enxotá-la. Para fora da alma e do corpo a velha roupa esgarçada que não servia-lhe mais. Desde as palavras engolidas a força deglutidas sem querer até os pensamentos nebulosos que ardiam na mente. Poderia quem sabe passear, revisitar lugares importantes em sua vida, pedaços do quebra-cabeças, que, sem lógica hoje, havia sido montado meticulosamente no passado. E o que é passado, lá deve ficar. Aceitou que era um ser extremamente ansioso. Aceitar esse fato feria-lhe porque abria o contato com sua fragilidade emocional. Aceitar certas fraquezas fazia parte do processo que resolvera encarar. Fugir só aumentava a dor, devia lembrar-se. E havia ainda o paradoxo: quanto mais esperasse menos deveria esperar. E isso era bom. Bom também o cheiro do primeiro lugar que resolveu visitar. Deveria ter ido só, mas ainda havia a insegurança. As pessoas que fizeram-lhe companhia eram muito importantes. Caminhou horas, cabelo ao vento, rosto ao sol. Deixou que as lágrimas caíssem para que não tivessem mais que retornar. Não por esse motivo. Quando a chuva chegou deixou-se imergir. Como o contato era básico! Como não havia percebido ainda a importância de todos aqueles mínimos detalhes já esquecidos! A vida lhe impusera tanto resgate e tal fato trouxera tantos obstáculos mas a tempo percebera que o muro, como tantos outros poderia ser derrubado. Ansiava por vê-lo desmoronar. Percebia que a cada investida, a cada redescoberta, a vida voltava a pulsar em suas veias. De longe, pessoas observavam a leveza daquele ser que buscava a libertação. De longe, pessoas torciam por sua própria libertação. De longe, ela observava e seus olhos lacrimejavam e pediam por todos que precisavam voar. Já era noite quando a paz invadiu seu peito e pôde repousar seu corpo cansado na face clara da lua. Chorou em paz.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Clariciana III


E então como seria agora? O que faria a partir do momento da tomada de consciência? Havia momentos em que essa solidão buscada feria-lhe o peito, era como uma fisgada na alma. Escolhera para si um mundo a parte para livrar-se de todas as suas dores. O muro em torno de si era enorme e impenetrável. Qual tamanha foi a surpresa ao descobrir que ela também estava do lado de fora. Seus sentimentos bordados e engomados para servir-lhe melhor agora estavam descortinando-se e ela tentava desesperadamente desvencilhar-se deles. Sentia urgência em agir diferente, agir como deveria sempre ter sido. Perdera o contato com muitas pessoas que amava criando sua redoma. Redoma frágil e carente. Redoma facilmente desmoronável porque na ânsia de proteger-se esquecera de fortalecer os alicerces. Negar seus verdadeiros sentimentos para proteger-se, ao contrário do que esperava, acabou fazendo com que ela afastasse do que era. E agora perdia-se dentro de si afastada de seus verdadeiros valores. Ainda havia valores? Quais seriam os introjetados a partir de uma projeção? Precisava separá-los, separar o joio do trigo. Tudo isso atortoava-lhe profundamente. Pensou então que haveria de descobrir um modo que fizesse uni-la a sua criança interior, aquela que fizera adormecer quando sentiu-se adulta. Sim, sentia que ela estava lá esperando por si de braços abertos. Perdoar-se por seus erros talvez ajudasse nessa empreitada. Era a culpa o que lhe mobilizava e era dessa culpa que deveria livrar-se em primeiro lugar. Sempre teimosa fazia questão de escolher caminhos tortuosos. Não queria e não podia ouvir conselhos porque era a dona da verdade, da sua verdade fantasiosa. Sempre seguia pela estrada que a experiência alheia advertia-lhe de ser errada. Queria ver para crer e assim experienciava o caminho da dor. Deveria entregar-se ao que realmente era. Seguir seus instintos, sempre que ignorava-os tudo acabava muito mal. Mas a recusa estava ali agora diante de si e essa recusa causava-lhe repulsa. Curioso como as vezes tinha clareza e a lucidez diante do óbvio trancado a sete chaves no seu inconsciente. Tudo aquilo que construira para livrar-se da dor voltava agora para cobrar-lhe seus falsos e inúteis investimentos. Estava em uma fase de sua vida em que era encarar ou morrer sendo o que não é e isso causava-lhe náusea e vertigens. O peito apertado zombava das largas vestes que tentavam afrouxar-lhe o mal-estar. Tudo o que acontecia, noite e dia, vinham lembrar-lhe de que esta era a hora de virar a mesa. Não havia mais como adiar diante do constatado. E assim longos suspiros e pensamentos preparavam seu retorno.

domingo, 24 de maio de 2009

Claricianas galbeanas

Pouco antes do horizonte belo se assombrar desceu do céu uma aveanjo , iluminou minha almalama e disse: Luska Klestakov, você foi Julietalice mas no fundo, no fundo é Clarice.
Dedico essas maltraçadas linhas, uma pretensão de crônica que arrasta-se agora indefinidamente e que devo publicá-las quando não mais quiser calar-me... dedico à minha amada ( sempre amada) Regis Isapovitch. Claricina e Clariceana desde sempre.
(Ichi, agora mais Galbeanas que nunca. rs)

Clariciana II


Despiu-se e foi para a vida. Lêdo engano pensar que era especial, que era diferente. Sua alma de mulher enganava-lhe e era como se precisasse disso para seguir e então mentia para si mesma e essa era a pior mentira que já contara. Vivia cada dia como se fosse o último, dormir era perda de tempo, do tempo precioso que a levava para dentro de si. Os dias emendavam-se às noites e o espelho lhe mostrava fundas olheiras. Seu rosto já marcado pelo peso dos dias intermináveis, das noites insones, lhe era estranho muitas vezes. A vida enchia-se de sentido mas o corpo cobrava a alma. O que fazer desse dilema onde a resposta à charada era clara e ao mesmo tempo obscura? Devaneava sonhando sóis em meio ao gelo da neve que carregava dentro de si. Chorava e gargalhava diante de cada nova descoberta. O mundo parecia-lhe agora maior e sentia-se à sua altura quando conseguia entrar em contato. Temia o fim da tênue camada que muitas vezes se rompia. Era um mundo externo onde derramava seu pranto interno, seu pranto eterno. As luzes da cidade já não clareavam mais que a tocha que carregava dentro de si. Já poderia sentir sem precisar fugir. Já poderia crescer sem precisar partir-se. Já poderia dormir sem precisar iludir-se. Já poderia partir sem precisar ferir-se. Parecia-lhe que entrava para dentro de si descortinando um mar de possibilidades mas as escolhas já não lhe assustavam tanto quanto antes. Sentia orgulho de ser quem era e sentia ainda que era necessário doar-se sempre. Descobrira que perdera tempo demais tentando explicar que não precisava explicar nada pra ninguém. Perdera tempo moldando as máscaras que supostamente fariam com que fosse aprovada, amada, aceita. Perdera dias, meses, anos tentando ser igual. Não era. Nunca haveria de ser. Esse mundo não era dela, ela não habitava mas apenas habituava-se. Cansada de tanta volta para chegar ao mesmo lugar de sempre, muitas vezes estagnava-se. Mas tudo isso era passado pois a vida lá fora agora era vasta demais e não cabia dentro de si. Despiu-se e foi para a vida, a verdadeira vida.