quinta-feira, 30 de julho de 2009

Delírio




...Dei de delirar
Ando sonhando uns sonhos
Que eu sei que não vai dar
Ando arrastando asas
Pra qualquer pessoa pegar
Ando soltando umas pérolas
Para aos porcos dar
Ando numa preguiça só
Ai que vontade de deitar
Ando dum lado pro outro
Só pro tempo passar
Dei de delirar...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Leãozinho

 
Antes de você chegar
Na época de minha vida-na-falta
O mundo era menos colorido
Mais chato, monótono todavida...

Quando você saiu do meu ventre
Senti-me mãe-bruxa-fada-mulher
Senti-me luz, primeira vez na vida
E o mundo coloriu-se...

Hoje, na calma materna,
Olho bem pro meu leãozinho
Embalo você com os olhos, com a mãos
E sigo mais feliz.

Parabéns ao meu filhote Rafael, por seus luminosos seis anos de vida.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Salamandra


Mora em mim tudo que há em uma mulher
Todos os seus secretos caprichos
Faço de mim o que bem quero
Explodo, encubro
Me mordo.
Abro o portal para o dragão, enxoto da jaula, o leão
Atravesso o além e transponho galáxias, sóis e planos
Sou próxima aos elementais e sei onde habitam as feras
Vôo alto e rastejo com serpentes
Sou assim mesmo, mulher.
Aprendi a força das paixões,
com a sabedoria do fogo, dancei com salamandras.
Narcisa solitária, Helena esquecida.
Julieta amada, Bela Adormecida.
Todas essas habitam em mim.
E mais o ponto de conversão
Que detona e abranda o coração.

terça-feira, 14 de julho de 2009

No final



Pode ser que no final
nada haja para encantar
Pode ser que no final
nada falte a declarar
Pode ser que sim
Pode ser que não
Pode ser um: Quem sabe?
Só não pode ser igual
Só pode ser anormal
e por isso, tão imoral
e imortal.
Pode ser que nem tenha havido um final.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Elan


A solidão doía-lhe porque percorria todas as veias do seu corpo culminando no coração. E era por trás da cabeça, na nuca que sentia. Sentava na rede, deitava na rede...rolava...nada aliviava. A tensão era depositada nas costas, nos músculos, deixando-os tesos. Tinha urgência, e era assim desde o amanhecer e ainda emendava-se com o não-dia, impressões da ilusão de um ser questionador. Duvidava de si, duvidava se estaria acordado ou dormindo, vivo ou morto. Em seu mundo fabuloso o que tinha certeza é que desde cedo aprendera a questionar. E rodopiava em torno de questões existenciais como o que significava aquela coisa dentro de si que o fazia ter fome, mesmo após ter se fartado. Aquela coisa que apertava-lhe o peito quando só e quando iludia-se de que estava acompanhado. Uma vontade enorme de sair correndo, e, q uando o fazia, a vontade maior era de não permanecer onde chegara. Nada bastava para si. Ele queria sempre mais, sentia-se vazio e nada o preenchia. O desejo não tinha fim, era alcançá-lo, e lá vinha outro atormentá-lo. Acompanhava-o desde a mais tenra idade, idéias de felicidade plena e tranqüilidade. Idéias incompatíveis para ele, que mesmo estando em paz, sentia fervilhar em sua cabeça pensamentos. E eram pensamentos ambíguos, sempre. Tinha um desejo secreto... e esse era o mais fabuloso, o desejo de não crescer. Sentiu um ódio profundo quando viu crescer nele pêlos em toda parte do corpo franzino que transformava-se. E com o corpo, trasnformavam-se também seus desejos. Aquelas garotas românticas que tanto desprezava, agora eram vistas com outros olhos. Queria tocá-las, amá-las, beijá-las. E o que nele causava indignação, não era só o fato de ter que assumir responsabilidades, o que feria-o era estar livrando-se, mesmo sem querer, de sua inocência. Afastava-se do corpo e da inocência de sua criança interior. Não deram-lhe nem a chance de optar por essa mudança. Sua inocência era tão pura, que, quando criança, muitas vezes acreditava ser o protagonista de uma história importante e sua felicidade era tão plena que já chegara a imaginar que aquele exato momento era o final feliz dessa história. Se ele morresse naquele instante, não temeria, pois já tinha alcançado o nirvana. Hoje, tinha medo da morte. A medida que ia “adolescendo” já não tinha tanta certeza de que poderia, um dia alcançar o paraíso. A partir daí, começara a sentir-se sempre a uns dois ou três passos dele. Hoje, vislumbrava apenas uma longe fumaça no horizonte. Isso o feria. Não enxergava mais a luz no fim do túnel. Estava roubada sua inocência. Esse fato doía-lhe nas entranhas. Será que nunca mais atravessaria o portal?