terça-feira, 29 de setembro de 2009

Da vida




Da vida
não duvido mais
Quero o cerne, a carne
Quero o que me é de direito
Da vida
Quero o leito
Rios, cascatas, mares
Quero bares
Da vida
Quero becos
Ávida de desejos
Comungo com deuses
Pequenos seres
Como eu

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Em sonhos



Em meus sonhos pinto e bordo
Transbordo
Teço teias penetráveis
Sempre voando, bailando, cantando
Nos meus sonhos vejo a luz
Desde o início do túnel
Tinas e mais tinas de água límpida
Cachoeiras embalando sonhos alheios
Nos quais penetro sorrateira
Com cara de quem foi convidada
Em meus sonhos posso ser o que quiser
A menina zangada, mulher amada, adolescente malcriada
Posso ser até a sábia anciã, se quiser
Percorro casarões antigos
Recantos sombrios
Percorro vales verdejantes
Recantos encantados
Em meus sonhos estou sempre só
Me vejo pelo avesso
Sou de dentro pra fora
Qual observador arguto
Escuto
Vejo pessoas sorrindo, amando, chorando
Vejo além
Em meus sonhos

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Primavera


A primavera inunda de luz minha vida
Com seus perfumes exóticos
Alucina meus seis sentidos
Aguça minha sensibilidade
Tal qual  beija-flor sugando rosas
Borboleta bailando singela
Leva e eleva meu pensamento
E, delicadamente
Sem tormento
Desfaleço-me ao sabor do vento...

domingo, 20 de setembro de 2009

Clariciana VIII

Caminhava distraída por entre viseiras e recolhía-se a conchas absurdas criadas. Saboreava a brisa que enchia seus pulmões, pulsações de uma vida repleta de cores e revelada em cada detalhe, sabores e odores flamejantes de um jardim secreto, torneado de flores e amores. Abençoada por visões sombrias e enigmas a serem decodificados. Mas a visão dantesca prosseguia envolta em nuvens esparsas e negras. Tudo prosseguia como mandava o figurino e ela cada vez mais sentia que era muito pequena diante de tudo. A vida revelava-lhe coisas das quais não gostava e mesmo assim seguia saboreando. Quando haveria de acordar? Será que um dia olharia tudo em volta e passaria a enxergar diferente, enxergar com os pés no chão? Sabia que nada sabia e esse fato também trazia dor. Sabia que para ser grande era preciso abdicar de sabores indigestos. Então deveria lutar, deixar de engolir alimentos nefastos. Mas mesmo assim prosseguia... um dia haveria de chegar o anjo branco que a levaria aos céus. Mas divagava: não estaria esse anjo dentro de si?

sábado, 19 de setembro de 2009

Luz da lua



Sou da noite
Borboleta noturna
Desgarrada da flor
Tecendo ilusões
Soluções inacabadas
Inesperadas
Luz da lua
Completamente nua
Exposta em raios
Dispersa no céu
Sem prumo
Rumo ao mar
Sem porto para ancorar
Sem fim

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sinto


Do arco-íris do meu ser
Pinto e bordo, recordo...
Brindo a vida em sua taça
Leque de possibilidades, ardo...
A cada volta do sol
Dele visto-me desperta
E imersa em raios, explodo...
Envolta no manto da lua
Imensidão de brilho e luz, respiro...
Na escuridão de minhas noites
Chuvosas, saudosas, cheirosas
Brinco de voar, imagino...
Nas águas do meu viver
Sou uno e duplicidade
sinto, sinto, sinto...

 





quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pequeno tratado sobre mim




Nasci de olhos e mãos abertas para esse mundo. Fui bem recebida, acolhida, amamentada e amada. Fui sim, a criança mais feliz que conheci. Brinquei até hoje e seguirei assim. Sempre gostei de ampla visão, por isso vivi subindo em telhados, muros, construções. Mas sobretudo trepei em árvores frondosas, onde fazia minhas casas com lençóis e bonecas. Mais ainda, saboreei frutas maravilhosas, lá de cima, só pra ser mais feliz. Caía, levantava, sacudia a poeira e sorria. Amava o fogo, cheguei a ser incendiária, desde tenra idade. Ateei fogo para dançar com salamandras. A água, ah, como sempre amei a água... Nela quase fui-me por duas vezes, uma no rio, outra no mar. Fiz do Santo Antônio meu berço, de cachoeiras minha paz e do mar minha recarga de energia. Brincava com pessoas para fazer a vida brilhar ainda mais. Muitas vezes, na mais absoluta inocência, fiz coisas desagradáveis, para arrancar risos, brilho esse que sempre prezei. Amei com transparência e sem resguardar-me. Sempre acreditei nas pessoas e no que elas podem trazer de melhor. Sofri desesperadamente em prol desse sonho. Sonhei que voava, dava saltos longínquos, flutuei. Plantei árvore, flores, feijão. Amei, amei, amei. Apaixonei-me por pessoas, versos, prosas, livros, músicas, ideais, profissões e mais, muito mais. Tive amor paterno, materno, fraterno, familiar, ágape, erótico, incondicional. Tive instinto maternal. Bebi, sorri, bebi, chorei, bebi, amei. Bebi vida. Bebi amor. Dancei, cantei muito. E canto essa vida até hoje e além.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ausência



Cai a tarde impregnada de ausência
Saudade chega com seu manto a encobrir-me
O por do sol me consome em chamas
A lua cansou-se de emprestar-me consolo
Mas no fundo do peito
Naquele lar profundo da alma
Onde o tempo é infinito
E as horas não são notórias
A sensação que ora me alucina
E ora me veste-me de verde
E despe-me de cores ilusórias
Faz-me um bem
Sinto que sou maior
Sinto que a brisa desfalece-me
Mas infinitamente eleva-me
Sinto o pulsar do amor
E então essa ausência anuncia-me a vida
Ela agora faz parte de mim
Nessa máscara que não tiro nunca mais.