segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ita Bira


Itabira não é para mim
Um mal tão grande assim...
Ai, ai, ai, ai
Não pode-se julgar um lugar por nossas próprias mazelas
Itabira acolheu-me profissionalmente
E, finalmente, deu-me um lar decente
Ai, ai, ai, ai
Tão perto do mestre Drummond...
Olho de frente, vejo casas simples
Olho ao lado, vejo um lago
( Rejeitos da Vale, sem vale...)
Ai, ai, ai ,ai
Mas olho sonhando um oásis
Talvez um lago natural, com seus encantos
Vejo de frente a Fazenda do Pontal
Nem sei se o mestre já viveu ali...
Se prossigo em frente, chego ao Memorial
Sem saber ao certo se foi feito
Para homenagear ou usar...
Ai, ai, ai ,ai
Mas o que importa?
Se são traços verdadeiros que habitam ali?
Uma velha máquina de escrever,
Onde também, como eu, tu deixastes impressos
Teu pesar, espanto e alegria
Acerca dessa vida,
Dura, férrea.
Não a deixarei, Itabira,
Dura Ita,
Não antes de redescobrir-me,
Não antes de estender minha mão cansada
Àqueles que dela precisam
Ai, ai, ai , ai
Escrevo em vão,
Tantas vezes sinto vontade de chorar
( Nem mesma eu sei, se de tristeza ou perplexidade)
O pranto vem, e,
Tanto mais forte,
Prossigo!
Ai, ai, ai, ai!
Itabira,
Acalanta-me.

sábado, 20 de junho de 2009

Clariciana VII


Primeiro haveria de entrar em contato com seus sentimentos outrora resguardados de si. Pensando na busca desenfreada para amenizar o sofrimento ( ainda pensava) notara que tivera que assassinar certos sentimentos que a faziam sentir-se rejeitada. O que concluíra não era lá grande coisa, além de deixá-la assustada. Concluíra que na verdade tais sentimentos não foram mortos mas sim adormecidos. E o sentimento mais forte era o da raiva. Raiva de pessoas que demonstraram indiferença para com ela. Raiva de pessoas que não acreditaram em seu potencial. Raiva de pessoas que a magoaram profundamente. As cicatrizes eram provas de que os sentimentos existiram. Não queria revirar velhos sentimentos embotados, mas aprendeu que só assim poderia livrar-se deles e enfim viver o momento presente. Sabia que além de não ser fácil isso iria modificar toda sua condição de ser o que havia ditado para si. Resolveu então que de agora em diante não haveria mais de guardar para si o que a incomodava. Não queria se acomodar com o que incomoda. Não mais. E percebeu que deveria sentir o que sentia e que não haveria de esconder seus sentimentos. Nem precisava mais voltar ao que passou, mas de agora em diante deveria resolver com quem a importunava. Deveria resolver com o que a importunava. Chega de noites insones tentando justificar suas falhas e as de quem a magoava. Entendeu que deveria gritar diante de qualquer porcaria que a obrigassem a engolir. Entendeu que essa deglutição obrigada revirava-lhe o estômago. Entendeu que a paz desejada só retornaria se fosse sincera consigo mesma, com seus verdadeiros sentimentos. Descobrira que a raiva é um poderoso sentimento que só escoa-se se for canalizado para fora de si e para que ela não se exprimisse intelectualmente foi preciso muita energia e isso afastou de si os fatos e eventos reais. Sempre camuflava o verdadeiro, o real. Geralmente até esquecia-se do motivo que a fizera ficar magoada e geralmente descontava sua raiva em quem estivesse mais perto. A triste constatação de que a experiência não gratificante foi engolida não parava por aí, ela vinha acompanhada da certeza de que não queria assumir a responsabilidade de ferir a pessoa que a machucou pois isso faria com que tivesse que lidar com a possível rejeição. Com isso foi confinando-se em sua esfera intelectual, em sua redoma mortífera. Sua raiva parecia-se com a de uma criança que quer revidar o soco, mas não sabe como. Esse sentimento então voltou-se contra si mesma. Além de tudo tinha muito medo de expressar sua raiva e perder o controle. Tanta defesa... para que? Sua cabeça pesava diante de tantas descobertas então precisava também descansar. O essencial já estava visível: extravasar a raiva no momento que a sentir é toda a diferença que há no mundo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Clariciana VI


E o que ela era? Ela vivera a ilusão de ser livre. Mas isso antes de ser contaminada, poluída. Uma liberdade inalcançável quando engana-nos dizendo que é, só pode revelar-se mais tarde como uma sensação de que nunca foi. Essa verdadeira liberdade não prende-se a nós... não nesse corpo. Sentia que a alma fugidia gostaria de paralizar os momentos fugidios, dominá-los. Em vão. O tempo esvai-se e o dela passou rápido demais. Perdera chances. Perdera experiências porque havia também o medo de sofrer. Em nome da liberdade ludibriada, ela perdeu e perdeu-se. Como nunca se dava por vencida, precisava abrir novas experiências mas dessa vez sem prender-se a bordões ou frases feitas. Nada de recuperar tempo perdido porque sabia agora que isso não existe. Agora era encarar o mundo real. Era entrar em contato com os fatos, positivos ou não. Era abarcar em si a realidade sem demagogia ou deformação. E principalmente era aceitar. Correu os olhos pela última vez em seu passado e nas fotografias. Cabeça erguida, voltou a si quando a última estrela perdeu seu brilho e a aurora já anunciava as boas novas. Orgulhava-se de ser fênix.

Fragmentos


Ele sabia cada gosto vindo dela. Seu corpo cansado de batalhas só encontrava paz no regaço do dela. Por isso ele gostava de observar os detalhes e nuances de seu movimentar lento e companheiro. Quando podia, fingia olhar ao espelho, reforçando sua fama de narciso, mas na verdade furtava-se de cada olhar lançado sobre seu mundo. Suas coisinhas, souvenir barato, mas pleno dela. Era ela a quem ele enxergava para além do espelho. Sua alma. Era ela a quem ele queria possuir para que perpetuasse-se aquela cena, naquele momento em que fitava cada corzinha naquele armário encantado. Seguia-a pela casa para onde quer que fosse para não perder os lances secretos que eram executados em sua ausência. Corria os olhos sobre os móveis em busca de alguma pista do que estava acontecendo em sua vida, o que era fácil pois ela vivia de música e poesia. Sabia que cada passo dela era teleguiado por amor. E isso o fascinava. Quando ia-se, deixava para trás rastros seus, forma de se instalar. Ela gostava, ele sabia. Saía de casa regado do perfume escondido no fundo, para ocasiões especiais. Queria sempre marcar o corpo dela, que sôfrego, clamava pelo seu. Na grande parte das vezes esquivava-se diante do apelo urgente que teimava em dominar mas na verdade só voltaria a respirar ao sentir que ela ainda respirava e que sempre iria respirar. Suas tentativas alcançadas enfraqueciam-lhe o corpo mas não elevavam-lhe a alma. Queria mais, queria entrar dentro dela, ser com ela. Não sabia como agir. Quando aparecia a coragem, ele ia e a possuía. “Sem meras patologias”. Sem suplicar nem prometer. Gostava de deter o poder, exercer o controle. Sem perceber até, repetia os velhos hábitos de seus ancestrais ou do poder patriarcal. Sabia sem querer admitir que era mais um carneirinho. Mas o sabor doce e ilusório desse suposto poder era passageiro e ilógico. Podia enquanto podia, quando recebia longas cartas de amor, quando recebia emoções dela, que só devia pensar nele toda hora do dia. Podia enquanto a tinha em seus braços, podia quando, para livrar-se da rejeição evitava maior aproximação. Tudo deveria ser calculado para que, em momento algum, transparecesse o âmago de seu amor e o êxtase desfrutado. A fruta, quando bem mordida nos engole. Seus amigos orientavam-no de acordo com seus delírios. Ele delirava. Em seus devaneios sentia-se o próprio Rei recentemente coroado. Caminhava na rua como um pavão porque era muito amado. Secretamente amado pela mulher que ama.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Clariciana V


Pensou então naquelas pessoas com as quais perdera o contato. Assustou-se. O número de pessoas muito especiais era grande, nem talvez pela quantidade mas pela qualidade. Pessoas que outrora eram essenciais. Como recativá-las? Trazê-las para o lugar onde não devia ter deixado-as saírem... Perdia-se em longos devaneios acerca de como agir. E isso trazia-lhe tanta dor quanto a que derivava-se de sua descoberta. Resolveu então que não iria mais pensar mas até esse seu pensamento doía-lhe. Desde que virou adulta adulterou-se. Acostumou-se a viver na esfera intelectual e isso impedira-lhe de entrar em contato. Impedira-lhe de viver. Às vezes pensava em desistir ( continuava pensando...), mas em seguida retomava sua sina. Não queria viver do que desistisse. Não podia compreender-se ainda, mas aprofundava-se cada vez mais na busca. Não aceitava o que era para não se passar por tola e essa era a sua mais secreta tolice. Temia a expansão que experimentaria ao entrar em contato consigo mesma, medo do medo de ter medo. E o medo sempre mobiliza. Então deveria também expurgar seus medos. Mas isso significava voltar a ter autoestima...será que perderia amor se deixasse de ser vítima? O medo retornava... mas já sentia um progresso pois agora começava a entrar em contato com seus sentimentos verdadeiros. De repente caiu em si de que construira um templo e enfeitara-o muito mas nunca havia ingressado nele. Expulsou dele os que mais ama. A solução era tão simples e clara que chegou a duvidar dela. Teria que olhar para si, ir ao encontro de sua alma e pedir para que ela gritasse. O Templo interno deveria ser contemplado novamente. O Templo traria seus amigos de volta. O tempo traria.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Raio de sol


Noutro dia fui questionada se não sentia medo de expor meus sentimentos, daí pensei...eu não! Tenho medo é das pessoas que os esconde. Não deixo de sofrer por elas, amando-as ou não.Não tenho medo de ferida, eu as curo todas doando mais amor.

"Pela vida de desenganos amanhã retornarei com alegria outra vez"

Basta abrir as janelas da alma e inundá-la da mais pura luz do primeiro raio de sol.