domingo, 10 de fevereiro de 2008

Revelações


Ela entrou no ônibus em um estado ímpar, era como se naquele exato momento a vida fizesse mais uma revelação. Sempre que passava por esses raros momentos, sua alma enchia-se de luz radiante e a sensação era de ter todo o corpo envolto nessa luz e todos os pelos corpo ( o do couro cabeludo era o que mais lhe impressionava) arrepiavam-se.
Sentou-se em uma cadeira qualquer decidida a fazer a escolha certa, a de ser feliz.
Então viajou viajando...seu pensamento voava longe e lembranças de um momento único e mágico vividas com um ser que certamente descera do céu em forma de homem – aliás meio anjo meio demônio – para lhe tentar e lhe salvar.
Tudo que acontecera e tudo que havia sido dito imprimira marcas definitivas...sentia que tudo já estava em sua mente mas precisava que fosse dito por outra boca...macia...
Ela estava naquela fase da vida em que crises existenciais brincam ciclicamente... E como era estranho pensar que sempre, sempre em sua vida toda, mutações evolutivas aconteciam no início do ano; já chegou a achar normal afinal de contas, ano novo é sinônimo de vida nova. Mas será que era só por isso? - nada disso... era uma sincronicidade, no fundo ela sabia. Mesmo porque tinha que ser naquele momento, naquele tempo e não em outro antigo.
A rodovia iluminada contrastava com o reflexo da lua nas águas da represa...ela olhava e sentia-se ainda mais iluminada.
A pouco mais de duas semanas começara o processo...as noites insones, o pensamento que não cessava...a busca como instinto de sobrevivência...
Parou e pensou que todos os seus esforços não traziam resultado... - vai ver é melhor mesmo dar um tempo na busca – e lembrou-se de um verso de Quintana que dizia mais ou menos que o segredo é não correr atrás das borboletas mas cuidar do jardim para que elas venham até ele.
Nunca dormiu tanto em sua vida, esse estado latente em que se encontrava fazia parte do processo.
Precisava cair nos braços de Morpheus para que pudesse fechar sua gestalt.
No dia seguinte pulou de ponta no rio, mergulhou até o fundo para que batesse as mãos no fundo e tivesse forças para subir à superfície. Nadou até o outro lado e deitou na pedra descansando novamente.
No último dia estava pronta enfim para queimar o que não valia mais e renascer das cinzas.
E mais: sabia que brevemente alçaria vôo novamente.
E assim voava entre promessas de um amanhã melhor, mais vívido...
Abril, 2007

2 comentários:

  1. Priminha, querida... e eu que não sabia que a senhora escrevia essas maravilhas todas... adorei, viu! Adorei... Agora sou seu leitor e frequentador diário... Beijos e beijos, com os votos de novas e inspiradas viagens,
    Petros

    15 de Abril de 2007 19:08

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  2. O âmago e o êxtase ... o apogeu da compreensão. Creio que partilhamos um mesmo modo de mergulhar na vida. Destemidos. Reconheço isso na sua jovem obra, cheia de sua alma. Não pare nunca. Precisamos da sua companhia no espelho onde nos miramos. Guerreira e humilde, é magnânima na compreensão e corajosa como ninguém. Vá além dos seus longínquos limites e nos conte o que viu!

    22 de Abril de 2007 13:34

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Eu não sei dizer nada por dizer,
então eu escuto...
Fala!